quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Servir...


"Ser Casto é amar como Jesus amou. É amar a sério, sem confundir amor com sentimentos, gostos ou paixões. É um amor adulto, equilibrado, depurado (...). Na vida religiosa renuncia-se a relações exclusivas em favor da missão de amar universalmente, para estar livre interior e exteriormente para servir todas as pessoas sem distinção. (...)."
Este texto foi escrito por João Delicado, sj, baseado em conferências do Padre Vasco Pinto de Magalhães. Ouvi estas palavras pela primeira vez nos votos do Paulo, como tive oportunidade de escrever aqui. Por esta hora, ainda se discute em Roma o celibato dos padres e esse grande mistério que é a Castidade.

Relativamente a essa questão também eu tenho muitas dúvidas. Confesso que me incomoda a ideia de alguém ter que abdicar da sua parte física e humana para se "especializar" apenas na versão espiritual de si próprio. No entanto sei também que Castidade é mais, muito mais que isso. Como diz João Delicado, "renuncia-se a relações exclusivas em favor da missão de amar universalmente". Amar universalmente requer liberdade total dos afectos. Servir os outros, com o grau de entrega que se exige a quem abraça a vida religiosa, só é possível se o amor não for direccionado para um só homem ou uma só mulher. Só resulta se esse mesmo amor, essa disponibilidade emocional for dirigida a todos os que precisam, sem preferidos, sem excepções.
Integrar padres casados na Igreja é abrir precedentes para situações que a própria Igreja não está preparada para enfrentar. Como explicar o divórcio de um padre? Como o resolver? Como encarar a traição, o ciúme, o vazio e tantas outras situações (limite, bem sei) porque passam tantos casamentos? Como fica um Padre com instabilidade na sua vida matrimonial? Com que forças pode ajudar os outros? Com que atenção?
Não sinto, enquanto católico, a urgência de discutir esta questão. Não vejo que a integração de padres casados seja uma forma de combater a diminuição das vocações como alguns invocam. Não entendo que o casamento possa fazer de um padre um homem melhor ou mais completo, porque é justamente na ausência da família que um Padre se organiza e cria os seus laços de afecto com todos os que vêem num padre um pai, um irmão, um amigo. Ser Padre é ter uma família imensa!
A vida é feita de escolhas. Também a fé é feita de desafios. A vocação tem os seus preceitos. O chamamento de Deus é algo de tão maravilhoso que justifica que tudo fique para trás. Pela entrega a Cristo. Pela entrega aos outros. "Vem e segue-me", disse Jesus. E é disso mesmo que se trata. Segui-Lo VOLUNTARIAMENTE sem amarras, sem grilhões, sem focos de distracção. Só a tranquilidade do celibato permite que se ultrapassem os desassossegos da castidade.

3 comentários:

  1. Bem. Que estranho. Sonhei com a noiva cadáver na noite passada.

    :-|

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  2. É uma belíssima reflexão a tua. Muitas vezes a Igreja é acusada de distanciamento em relação à comunidade, a proximidade pode ser realizada através da vivência igual dos mesmos problemas que referes, divórcio, ciúme, todos essas coisas que vamos conhecendo e que muitas vezes procuramos resposta junto de quem não as vive - o Confessor! Se não as vive, como poderá nos ajudar?

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  3. Pedro, obrigado por este post... Gostaria de dizer mais qualquer coisa, mas estou mesmo sem tempo...

    Vou para Fátima Tenho lá um curso... Volto domingo, espero ter tempo para escrever algo sobre isto. De quem o vive!!

    Abraços! :)

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