segunda-feira, 2 de abril de 2007

Tudo ou nada


Kátia Guerreiro enche a minha sala com a sua voz quente e apaixonada. O vento lá fora parou, o ar frio acentua a imobilidade das estrelas e, através das janelas, o campo grávido da Primavera parece dormir.

Nem o suave crepitar da lareira só em brasa me retém o pensamento. Voa com as asas da fadista até Goa, voa desvairado até se fixar naquele instante, naquela igreja, onde ouvi a Kátia a rezar cantando o fado Nossa Senhora das Dores. Uma tarde quente, a luz lá fora a romper a penumbra no templo, as nossas almas suspensas da música em pura emoção.

Oiço-o aqui e estou lá. A música ligando dois pontos no infinito, o poema a imaterializar-nos, a desprender-nos a alma, a voz a misturar a vida até isolar apenas aquele momento, dando à memória o sopro mágico da realidade.

2 comentários:

  1. Querida Moura,

    esse é um daqueles momentos que me orgulho de ter vivido ao seu lado. Figura na nossa biblioteca de emoções em comum! E que momentos. Obrigado por mais esta confissão de um passado feliz. Obrigado por me fazer viver tudo de novo através da sua escrita!

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  2. Pois é, Pedro, os bons momentos não devem ser confiados só à memória, há que escrevê-los e descrevê-los para se perpetuarem. No futuro haverá certamente muitos momentos felizes, em boa parte somos nós que os fazemos ou que os reconhecemos como tal!Esteja atento, cá fico à espera dos seus registos felizes...

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