terça-feira, 17 de junho de 2008

Lendo os outros


"Cavaco Silva falou em "dia da raça", e estalou o escândalo entre os polícias do vocabulário. BE e PCP dizem que o Presidente recuperou o vocabulário nacionalista e racista do Estado Novo. Eis um notável exercício de demagogia política que, com certeza, provocou lágrimas comovidas nas carcaças de Lenine e Trotsky.
BE e PCP têm sempre Salazar na boca. Aqueles que não concordam com bloquistas e comunistas continuam a ser apelidados salazaristas. Parece que o velho ditador está sempre ao virar da esquina. E, atenção, esta obsessão não aparece por acaso. Convém recordar que o BE e o PCP possuem uma cultura política muito semelhante ao salazarismo. Repito: Louçã e Jerónimo são iguais a Salazar em muitos aspectos. Tal como Salazar, Louçã e Jerónimo são anticosmopolitas, isto é, querem um Portugal fechado em relação ao exterior. Bloquistas e comunistas partilham com os salazaristas o sentimento anti-EUA e anti-UE. À imagem de Salazar, Louçã e Jerónimo querem exilar Portugal; o país não deve ter contacto político, económico e cultural com a globalização. Salazar escondeu-nos do mundo através de uma política proteccionista e paternalista que colocava a sociedade na dependência do Estado. BE e PCP têm a mesma visão. O Estado socialista, dizem, deve proteger os portugueses do vírus liberal oriundo de Bruxelas e Washington. O isolacionismo provinciano e nacionalista de Salazar está vivinho da silva no BE e no PCP.
Salazar, Jerónimo e Louçã poderiam sentar-se, tomar um chá e conversar durante horas sobre aquilo que os une: o ódio visceral que sentem contra a sociedade liberal composta por indivíduos cosmopolitas e não por grupos nacionalistas. O léxico corporativista de Salazar será muito diferente do vocabulário sindical de BE e PCP? (...)
"


Henrique Raposo, in Expresso

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