quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Lendo os outros

"O deputado que vai de férias e encontra o país

Não gosto de criticar o dr. Santana Lopes porque não gosto de mandar estalos em bebés na incubadora, mas agora vai ter mesmo de ser.

O anterior primeiro-ministro conta no seu blogue que não encontrou um único oftalmologista no Algarve, em pleno Agosto, que pudesse socorrer um familiar que teve um problema grave nos olhos. Só através de “contactos” conseguiu desencantar dois especialistas de Coimbra.

Durante o desabafo, Santana Lopes lembra, antes que alguém lembrasse, que exerceu o cargo de primeiro-ministro. E defende-se, antes de qualquer ataque, com o «pouco tempo, muito pouco tempo».

Como é evidente, a culpa de não existir um único oftalmologista em todo o Algarve, durante o mês de Agosto, não é do fugaz primeiro-ministro Santana Lopes. Mas pode ser do deputado Santana Lopes. Dele e dos restantes parlamentares. Sobretudo dos que foram eleitos pelos algarvios.

Quando o serviço nacional de saúde falha – e não há dúvida de que falha quando não há um especialista em oftalmologia num distrito inteiro, com milhares de pessoas em férias – a culpa é imediatamente do Governo, mas pode não ser só do Governo. O nosso regime democrático, embora mal frequentado, ainda respeita alguns princípios básicos. Um deles é a existência de uma oposição que pode e deve “fiscalizar” o Governo, nomeadamente no que diz respeito ao escrupuloso cumprimento da Constituição.

Mas isto é teoria. Na prática, a Assembleia tem os deputados da linha da frente, que só procuram protagonismo, e os monos das galerias, que vão hibernar para o Parlamento enquanto não é preciso organizar grandes jantares com o líder do partido, lá no concelho que dominam.

O dr. Santana Lopes não se pode queixar do país, mas não é por ter sido primeiro-ministro. É, isso sim, por ser deputado da nação e não mexer uma palha por um oftalmologista no Algarve. Ele gasta, com os colegas, todos os minutos do tempo parlamentar a tentar mostrar que é melhor do que Sócrates, quando o que era preciso, mesmo preciso, era um oftalmologista no Algarve."

JCS, in Lobi do Chá

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