sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Escudo

Ontem a Catalina Pestana deu uma entrevista à JS na RTP1.

Esta senhora não entrou da melhor forma no nosso tempo, associada ao caso Casa Pia, não gerava propriamente simpatia, em mim mesmo, reconhecendo-lhe tudo, gerava não antipatia, mas algum desconforto, não sabendo lhe chamar outra coisa.

Ontem, dá uma entrevista extraordinária.

Mostra a mulher, que um dia acordou para um cenário de horror. Cenário que a maioria de nós, ainda continua protegido. Se formos a ver bem as coisas, eu sei o que é a pedófilia, consigo até imaginar uma ou duas situações, mas a minha criatividade pára aí, porque não quero nem me interessa ir mais longe.

A Catalina Pestana, durante um par de anos, sentou-se diariamente com jovens abusados sexualmente, alguns de forma continuada, e que lhe relataram experiências, com maior ou menor pormenor, distância ou envolvimento emocional. Com certeza, como elareferiu, ouviu mais do que queria, desejava ou pedia. Nunca quis pormenores, mas os jovens tinham necessidade de os contar como forma também, de libertarem-se um pouco deles. Só por isto, uma sociedade inteira, lhe deverá estar eternamente grata.

Catalina Pestana disse imensa coisa, disse que nem ela, nem quem ouviu os miúdos, tem alguma dúvida do que se passou, e da culpabilidade, mas disse também que os casos são resolvidos com a existência de prova. Coisa aparentemente simples.

O que motivou este post é ter percebido ontem a dimensão desta mulher, o envolvimento pessoal que pôs no seu trabalho, o quanto saiu danificada e reconstruida, foi ter percebido finalmente, a raiva e exaltação que deixava transparecer na voz, na postura, sempre que a ouvia. Não digo que seja uma mártir nem uma santa, parece-me mesmo maior. Naquele cargo e naquele momento, era necessário uma Mãe e uma profissional, além do exemplar e competente, Catalina é admirável, parece-me uma das grandes figuras da sociedade portuguesa.

1 comentário:

  1. Catalina Pestana é uma mulher notável, que dedicou grande parte da sua vida ao combate ao trabalho infantil e também à luta contra a sida e a droga nas escolas.
    Nem sempre é fácil entendê-la, porque já não estamos habituados a pessoas que dizem o que pensam, sem artifícios nem paninhos quentes. De certo modo, ela é desconcertante por isso mesmo.Concordo consigo, é uma mulher notável.

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