segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

a plenitude da leveza do ser


["A insustentável leveza..." de A Fino G, in olhares.com]


“O que nos afecta na nossa carne pode, pois, afectar-nos mais profundamente do que aquilo que captamos só pela reflexão. Posso reflectir sobre a morte, mas a proximidade física de um moribundo penetra-me até ao indizível. Posso meditar sobre o belo, mas a presença sensível da mulher bela trespassa a treva do meu espírito” Fabrice Hadjajd

Vivência.
O que é isto de viver? Pode ser visto de muitas perspectivas: mais científica, mais filosófica, mais teológica, mais poética, mais racional. Dar certezas quase absolutas sobre a Vida, como se num simples tratado tudo ficasse esclarecido.

Há dias fui dar um largo passeio. Precisava de andar, sentir a brisa, ir, simplesmente ir. O “ser em caminho” com que me caracterizo impulsiona-me a pôr, precisamente, em caminho. Sobretudo depois de tempos tão intensos, como foi o dos exames. Não quero falar dos exames. Quero falar um pouco do que é isto de viver, em caminho.

Fabrice Hadjadj sintetiza muito bem o que é vivenciar uma realidade que vai para além do racional. Deixar que a realidade me entre pela pele dentro vai fazer com que o meu olhar sobre as coisas mude. Há o perigo de deixar que as belas e poéticas palavras possam ficar simplesmente a flutuar pela mente ou coração. Creio que a beleza da Vida acontece quando deixo que o impacto da realidade entre em mim. E é de tal maneira transbordante que há uma diferença no meu modo de estar na vida.

Enquanto passeava pelas avenidas desta cidade, grande por sinal, olhava as árvores despidas de folhas. Numa ou noutra encontrava ninhos, casas antigas portanto, inabitados. Mas rematados para receber os mesmos ou novos inquilinos. Os mesmos que fazem voos imensos e, seguindo cursos naturais, não deixam de voar. Pensei nos sonhos, os voos que não quero deixar adormecer em mim. Como que em expansão de olhares... Horizontes que a alma deixa abrir. A alma? Creio que Deus!

Em quem fui e vou pensando. Tornar-me dele, mas sem uma estruturação de finitude ou de limite. Não! Quero o oceano de sonhos, não para os dar, mas sim libertar para todos a capacidade de sonhar. A meio do percurso sorria, noutra vez emocionei-me a pensar em tanto. No que me mexe, no que e em quem me faz ser. Ás vezes gostaria de objectivar mais o que vai cá dentro, é tanto e, sim, confuso. Os sentidos estão abertos... a informação gera-se e acontece vida!

Vida, daquela prometida pela Esperança! Será verde? Sim, pois os pequenos rebentos que anunciam novos tempos são assim, verdejantes, com despontar de novas cores, mas verdejantes! É Vida! V-I-D-A! A mesma que desejo e quero anunciar, em poesia, em palavras, em quedas, em erros, em batalhas, em conversas, em divertimentos alegres, em que nesse momento todo o universo se concentra na Palavra, no Sorriso, na Lágrima, partilhados.

Abraçar, em passos de caminhos, o ritmo do tempo. E consolidar a certeza de fé de que Deus é muito mais do que se possa pensar, dizer, explicar d'Ele. É Vida. Por isso é palpitar em ansiedade de Amor, de encontros com pessoas (des)conhecidas, que marcam pelo seu modo de ser, porque simplesmente são. Não em conceitos ou convenções. São com um nome, uma história. São, mesmo que eu não goste delas, que me façam repugna ou confusão. São! A força do ser só pode ser maior que a força do sentimento.

E essa força do ser que habita em mim, em nós seres humanos, que sonham ou não, que vivem ou se prometem viver, dá-me impulso de caminhar.

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