terça-feira, 15 de novembro de 2011

Cidades... o pensar de!





Bridge de Jason Langer


Sempre gostei de grandes cidades. Nunca pensei bem o porquê. Talvez o movimento, a possibilidade de diluição no meio da multidão quando passeio pelo centro. O ritmo frenético dos tempos que marcam as entradas e as saídas. Também as variações dos bairros, com espaços muito distintos. Muitos momentos culturais, juntando aos desafios propostos pelos pensamentos que transbordam diante de tanta diversidade. No meio disto tudo, rezo.
Há espaços sagrados. Como que reservados para um encontro mais íntimo, onde os cantos contam histórias, recordam momentos, guardam acontecimentos. Ao ar livre ou fechados e decorados com o gosto que os tornam especiais. Os sons envolventes também evocam essa sacralidade. Talvez seja fácil imaginar o ermitério de um mosteiro ou uma igreja onde reina o som do silêncio. No entanto, tenho descoberto esses espaços nas ruas, nas “plazas”, na estrada que me leva até à faculdade e muitas vezes nas viagens de metro. No meio disto tudo, rezo.
Mas... rezo o quê? Rezo a quem? Rodeado de palavras, como pinceladas do que vivo como beleza também, este rezar pode ficar como uma acção bonita, que compõe o ramo comprado na florista da Plaza de Cuzco, quando se desce a Castellana. Assim, as grandes cidades também se tornam um dos meus espaços sagrados, onde contemplo o olhar das pessoas, imaginando os seus pensamentos. E aí só posso rezar a Deus presente no incógnito desse movimento. Deus reflectido no rosto de tanta gente que entra e sai pelas portas dos grandes edifícios, que deambula pela rua com fome, que puxa pelo cordel do seu tecido cheio de coisas contrabandeadas e de seguida foge da polícia municipal, que joga no pátio da escola, que, como só posso imaginar, chega a casa depois de mais um dia passado e aí encontra o conforto do lar, os sorrisos familiares, ou o vazio das sua falta de sonhos.
Sim, tenho saído do meu espaço fechado de casa e entrado um pouco mais no mundo, que não é mau, não é relativista, não é sem sentido... é o espaço da(s) História(s) onde Deus quer habitar ainda mais. A Encarnação é isto: o Verbo fez-se carne e habitou entre nós.

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