segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A blasfémia de Moisés




Lorena Guillén Vaschetti


(Versión en español en los comentarios)

Então Moisés voltou-se para Deus e disse: “Senhor, porque maltrataste este povo? Porque me enviaste? Desde que vim ter com o faraó para falar em teu nome, ele maltratou este povo, e Tu não libertaste de modo nenhum o teu povo”. Ex 5, 22-23


A fé implica muita seriedade. Esta minha reflexão não tem que ver com uma seriedade moral ou integridade de uma perfeição, ou pureza, inalcansável, mas simplesmente com a capacidade da total possibilidade de verdade e transparência diante de Deus. A fé é exigente na medida em que obriga a questionar(-me), buscando uma renovação do amor, querer e interesse pessoais. As dúvidas de fé, quando vividas com maturidade, podem ser portas para o aprofundar da mesma. 
Há dias, na aula de “Sapienciais”, enquanto introduzia o O Livro de Job, o professor  fez referência à “blasfémia de Moisés”. Moisés é chamado por Deus, dizendo-lhe que guiará em Seu nome a libertação do Povo de Israel do Egipto. Moisés dirige-se ao Faraó pedindo-lhe três dias para todo o Povo ir adorar a Deus no deserto. Além de um não rotundo, o Faraó intensifica o trabalho do Povo escravizado, numa injustiça tremenda... obriga-os a fabricar a mesma quantidade de tijolos com menos material, açoitando-os enquanto trabalhavam. Moisés, perante tanta injustiça, reza de forma blasfema, culpando a Deus pelo maltrato do Povo e acusando-o de não cumprir o que prometeu: a libertação do Povo. 
Que grandeza a de Moisés! 
Quando se lê a sua vocação, o quanto se opõe a ela e as voltas que Deus dá para lhe mostrar que não tem de ser perfeito, apenas ser quem é e confiar n’Ele para cumpri-la, este sentimento de grandeza torna-se ainda mais denso. Não é grande porque blasfemou. Não é grande porque se mostra forte contra Deus. A sua grandeza reveste-se na fragilidade de não aguentar tanta injustiça e, perante a sua impotência, atreve-se a gritar a e contra Deus. Não se refugia no medo em tocar o todo-o-poderoso, pondo em causa os seus desígnios. Nele habita a dúvida, a inquietação, “afinal Deus não salva”, e não tem problemas em expressar a sua  revolta. Podia ter seguido três caminhos: calar e ir-se embora; gritar e ir-se embora; gritar e, ainda assim na dúvida, ficar. Sabemos que optou pela terceira. 
Não me parece que a espiritualidade seja desencarnada da vida, das suas realidades psicológica, sociológica, filosófica e biológica. São aqueles que são mais próximos em relação que acabam por sofrer mais com o desespero ou tristeza e até com o mau-humor e “resmunguice”. São aqueles que estão mais próximos que sabem que esse grito existencial, vindo das mais profundas entranhas, pode significar precisamente o contrário da aparente acusação. O medo, a fragilidade, a impotência, não devem ser os controladores da relação, mas, sim, a verdade, a transparência e seriedade da mesma... sobretudo com Deus.
 Não caíram raios sobre Moisés, eliminando-o da face da terra. Moisés é confirmado por Deus como o mediador da libertação do Povo, dando um novo passo na relação com Ele. Atrevo-me a dizer que é preciso fé para blasfemar com convicção... quando se o faz sem medo de escutar a resposta que desinstala: “Moisés, porque clamas por mim? Fala aos filhos de Israel e manda-os partir. E tu, levanta a tua vara e estende a mão sobre o mar e divide-o, e que os filhos de Israel entrem pelo meio do mar, por terra seca” Ex 14, 15-16

E o impossível torna-se possível.

3 comentários:

  1. Entonces Moisés se volvió a Dios y le dijo: “Señor, ¿por qué maltratas a esta gente?, ¿por qué me has enviado? Desde que fui al faraón para hablarle en tu nombre está maltratando a esta gente, y tú no haces nada por librarla”. Ex 5, 22-23

    La fe implica seriedad. Esta mi reflexión no tiene que ver con una seriedad moral o integridad de una perfección, o pureza, inalcansable, sino simplemente com la capacidad de total posibilidad de verdad y transparencia delante de Dios. La fe es exigente en la medida en que obliga a cuestionar(me), buscando una renovación del amor, querer e interés personales. Las dudas de fe, cuando vividas con madurez, pueden ser puertas para su profundización.

    Hacia unos días, en clase de “Sapienciales”, mientras introducía el Libro de Job, el profesor hizo referencia a la “blasfemia de Moisés”. Moisés es llamado por Dios, diciéndole que guiará en Su nombre la liberación del pueblo de Israel del Egipto. Moisés va al faraón pidiéndole tres días para todo el pueblo ir adorar a Dios en el desierto. Además de un rotundo no, el faraón intensifica el trabajo del pueblo esclavizado, en una injusticia tremenda... obligando a fabricar la misma cantidad de ladrillos con menos material, siendo apremiados por lo capataces mientras trabajaban. Moisés, ante tanta injusticia, reza de forma blasfema, culpando a Dios por el maltrato del pueblo y acusándole de no cumplir lo que había prometido: la liberación del pueblo.

    ¡Qué grandeza la de Moisés!
    Cuando se lee su vocación, lo cuanto de opone a ella y las vueltas que Dios da para mostrarle que no tiene de ser perfecto, sino solo ser quién es y confiar en Él para cumplirla, este sentimiento de grandeza se torna aún más denso. No es grande por blasfemar. No es grande porque se muestra fuerte delante de Dios. Su grandeza revístese de fragilidad de no aguantar tanta injusticia y, ante su impotencia, se atreve a gritar a y contra Dios. No se refugia en el miedo de tocar el todopoderoso, poniendo en causa sus designios. En él habita la duda, la inquietud, “Dios no salva”, y no tiene problemas en expresar su revuelta. Podría haber seguido tres caminos: callar e irse; gritar e irse; gritar y, todavía con dudas, quedarse. Sabemos que optó por la tercera.

    No me parece que la espiritualidad sea descarnada de la vida, de sus realidades psicológica, sociológica, filosófica y biológica. Aquellos que son muy cercanos en relación son los que más sufren con el desespero o tristeza e incluso com el malo humor y “refufuñice”. Son aquellos más cercanos que sepan que ese grito existencial, venido de las más hondas entrañas, puede significa precisamente el contrario de la aparente acusación. El miedo, la fragilidad, la impotencia no deben ser controladores de la relación, sino la verdad, la transparencia y la seriedad de la misma... sobre todo con Dios.

    No han caído tormentas sobre Moisés, eliminado su ser de la faz de la tierra. Moisés es confirmado por Dios como mediador de la liberación del pueblo, dando un paso nuevo en la relación con Él. Me atrevo a decir que es necesario fe para blasfemar con convicción... cuando se lo hace sin miedo de escuchar la respuesta que desubica: “Moisés ¿por qué clamas por mí? Di a los israelitas que se podan en marcha. Y tú, alza tu cayado, extiende tu mano sobre el mar y divídelo, para que los israelitas pasen por medio del mar, en seco”. Ex 14, 15-16

    Y lo imposible se torna posible.

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  2. Gostei muito deste texto e uma parte em concreto tocou-me profundamente.
    "As dúvidas de fé, quando vividas com maturidade, podem ser portas para o aprofundar da mesma.", espero que as minhas dúvidas sejam isso mesmo, um aprofundar, um conhecer, um pensar e entender.
    A minha avó tinha uma fé inabalável e eu sinto por ela, que infelizmente não está entre nós, um amor e uma admiração tão grandes que espero um dia ter metade da fé dela.

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    1. A fé é um caminho, que não se pode medir pela quantidade (tenho dúvidas se pela qualidade também). Como escrevi num post mais recente:

      A fé é um caminho de muita sinuosidade, onde todos os sentimentos são convidados a caminhar por esses passos. É na vida, com as narrativas que se escuta, lê e se encontra que a fé é movida.

      E é mesmo bom podermos recordar as pessoas que sabemos que através das suas vidas foram mulheres e homens de fé. :)

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