quarta-feira, 15 de abril de 2015

Confissões e autenticidade




[Secção “sobre confissões” - com a devida permissão para partilhar parte da conversa, mantendo, claro está, o anonimato] 

“Salut mon père!”, dito de forma tímida. Olhei, de sorriso agradecido: “Salut!” “É normal que não me reconheça. Confessei-me a si no Advento, numa noite de Reconciliação.” Pois, não estava a reconhecer. “Que boa surpresa encontrá-lo assim aqui na rua. É uma oportunidade de agradecer.” Dou aquele sorriso animado. Começámos à conversa e comenta: “Naquela noite estava apreensivo. Sou daqueles que gosta de cumprir tudo, bem, não sei se gosto, e é por isso que agradeço. Fui educado a fazer tudo bem, a ser o melhor, a ter que ter as melhores notas: o bom nome da família em jogo. Sabe, quando vi que estava de sapatilhas, e de azul vivo, tive para ir confessar-me a outro sacerdote. No meu pensamento surgiu ‘sacerdote demasiado moderno’. Acalmei quando, com um sorriso, se levantou para me cumprimentar antes da confissão. Disso não estava à espera. Também no respeitar-me por confessar de joelhos. Fui habituado assim. Mas, achei piada à sua subtileza quando me viu a tremer: tocou-me no ombro e com um sorriso dirigiu o olhar para a cadeira. Sentei-me e continuei. Bom, em resumo, sem que aparentemente lhe tivesse dito nada nesta linha, disse-me que Deus não é um examinador ou avaliador de notas ou de bom comportamento. Afinal, Deus também perdeu, por amor, a vida. Nunca tinha pensado nisso.” “Sinceramente, não me lembrava. Sabe, há muitos anos tive um professor que dizia: ‘a boca fala, o corpo conversa.’ Infelizmente, há muita coisa falada que não coincide com o ‘conversado’. E na confissão tento estar atento à pessoa no seu todo, buscando a sua autenticidade. Muitas vezes dá-se a Deus as  ‘coisas a dizer em confissão’, mas não a verdade, a autenticidade, de nós. Quando Jesus diz ‘é a verdade que nos salva’, não tem que ver com coisas lógicas, ou delineadas em fiz/não fiz, cumpri/não cumpri, mas de autenticidade de nós, com as nossas maravilhas e dons e, claro, no erro, na falha, no mal que se fez a Deus, aos outros e a nós próprios.” “Pois, é por isso que já não sei se gosto de cumprir tudo, ou simplesmente o faço ‘porque sim’. Acho que há mais de mim, nessa busca de autenticidade que fala.” “Não tenho dúvidas que há mais de si… há sempre mais de nós, que sobretudo não se pode reduzir em imediatos prejuízos.” E a conversa continuou em partilha mais privada. Regressei a casa agradecido a Deus pela vocação, a formação que vivo, o respeito, a vida, a originalidade, a criatividade e a suavidade divina quando nos deixamos conduzir por Ele. ;) 

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