quinta-feira, 11 de junho de 2015

Impedir um assalto




Nicole Cambré


[Coisas do quotidiano em Paris, que não gosto e não quero que se repitam] Infelizmente é do quotidiano. Ontem impedi que um assalto tivesse um final feliz para o assaltante. Após o toque de fecho de portas do metro, um miúdo dá um puxão e rouba um telemóvel de uma senhora. Rapidamente forço as portas, não deixando que se fechem e vou a correr em direcção ao miúdo que fugiu para o lado sem saída. Aproximei-me dele… sentia-se o nervosismo. [Entretanto o maquinista do metro sai também] A primeira coisa que lhe disse: “O que ganhas com isto? Alguma coisa!” Fugia-lhe o olhar e abanava a cabeça em não. Notava-se que ainda queria fugir, mas não conseguia. Voltei a perguntar o mesmo e pedi-lhe o telefone. Deu-o à senhora que aproximou-se. A senhora perguntou-lhe a idade. Não percebi se respondeu 16 ou 17, mas era por aí. O maquinista perguntou se queríamos chamar a polícia. Perguntei à senhora e ela disse que não. O miúdo sentou-se no banco. Antes do metro começar a andar, olhei-lhe nos olhos e de forma vincada disse-lhe: “Desta vez tiveste sorte, muita sorte. Pensa no que queres fazer na vida. Não te ponhas a roubar para provares nada a ninguém!” Entrei no metro e seguimos. Ele ficou sentado. Duas coisas: controlei-me para não lhe dar um par de estalos. Sinceramente, mais do que por ter roubado, por estar a fazer aquilo com aquela idade, claramente para provar algo a alguém. Depois, tirando uma ou outra pessoa que saiu do metro para assistir à situação, mais ninguém saiu para ajudar. Isso magoou-me. Reconheço a generalização, mas o que senti ontem foi a indiferença diante do mal a acontecer ao outro e, de algum modo, o medo do que “me possa acontecer”. Pois, e se fosse comigo? Já fui assaltado há uns anos, com faca de ponta e mola e a sensação é terrível. Mas, nesta linha social, fiquei a pensar no miúdo durante bastante tempo. Enfim, o que me vale é que acredito e sei de bons exemplos que mostram que, mais do que gente diluída em manadas insensíveis, somos capazes de ser humanos, no serviço ao outro, em particular na educação.

Sem comentários:

Enviar um comentário