quarta-feira, 29 de julho de 2015

Exercícios Espirituais




Paul Brooks


Estou a mergulhar de forma diferente nos Exercícios Espirituais (EE) de St. Inácio. Depois de os ter feito pela primeira vez há 14 anos, preparo os que vou orientar pela primeira vez sozinho a partir de amanhã para um grupo de 16 pessoas. Depois do merecido descanso entre sol e mar, preparo os pontos e os textos bíblicos que irei propor como ajuda ao encontro entre a “criatura e o Criador”. A grande riqueza dos EE está situada neste encontro, onde, mais do que ideias ou teologia, promove a liberdade através de um caminho que fará dialogar a história pessoal com o seu passado, sem julgamentos, na actualidade, em conjunto com a de Deus, em especial a partir da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus. Depois farei eu os meus EE… e de seguida voltarei a orientar outro grupo. Nos próximos dias estarei rodeado de espiritualidade inaciana e sobretudo de encontro com Deus. Nesse silêncio habitado e orante, tanto proposto como o que irei viver, rezarei por vocês, pelas vossas intenções e projectos. Peço-vos a oração e ou o pensamento, por mim e pelos dois grupos. Até breve. :)

terça-feira, 21 de julho de 2015

Coisas extra-quotidiano da vida de um padre - continuação de hoje




Chegado a Portimão para uns dias de descanso mais à séria, o meu pai disse: “vamos até ao Zoomarine!” Assim foi, pensando eu que seria mais uma das muitas vezes que lá fui. Mas não. Se há um ano andei a nadar com leões e elefantes marinhos e fui ver golfinhos no alto mar algarvio, desta vez os meus pais fizeram-me a surpresa de ir nadar de perto com os golfinhos. Este era um dos sonhos de criança. Posso não ser veterinário com especialidade em cetáceos, mas já posso dizer que dancei, nadei, mergulhei com o Hugo e dei e recebi beijinhos da Sara. Toda uma animação! De facto, sempre fui dado a novas amizades… mesmo que para muita gente possam ser estranhas. ;)

Coisas extra-quotidiano na vida de um padre




Os meus pais fizeram-me uma surpresa. Quem disse que sonhos de criança não se cumprem? Daqui a pouco conto mais... agora vou nadar com golfinhos!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Pastor e ovelha e pastor




Jawed Alan


Ontem, durante mais uma viagem e acompanhado pela noite, recordei os muitos encontros desde que cheguei, junto com boas conversas. Sobrevoava: quem é o ser humano? Talvez em tempo de “silly season” não apetece andar com estas questões mais filosóficas. No entanto, o tempo não pára e os acontecimentos, mais ou menos conhecidos, continuam a mover a humanidade. Pensei nisto de ser “bom pastor” (para onde encaminhavam as leituras deste domingo, ajudado pelas reflexões das homilias dos dois companheiros jesuítas que este fim-de-semana presidiram às suas Missas Novas). Não podemos ser bons pastores se não conhecermos a realidade das pessoas que nos rodeiam. Além das pessoas, também dos tempos, das culturas sociais e religiosas, que vão para além do meu “eu” fechado sobre si mesmo, em ideias ou modos de pensar. No fundo, mais uma vez o apelo à conversão pelo que esta ou aquela conversa ou história fazem ver de novo, em especial, a partir da misericórdia. O Francisco Campos, no sábado, recordava que somos pastores e ovelhas. O Francisco Martins, ontem, recordava-nos que o compadecer de Jesus é algo de entranhas, nesse movimento visceral, até mesmo uterino, que provoca vida. O bom pastor quer e compadece-se da vida das suas ovelhas, independentemente da sua cor, raça, sexo, crença, força ou fragilidade… sem esquecer, ou talvez por tomar cada vez mais consciência, que também é ovelha.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Muros




Laszlo Balogh/Reuters


[Secção desabafos] Li que se começa a erguer mais um muro na Europa. “Impedir a entrada de gente”, dizem eles. Os muros, físicos ou relacionais, erguem-se pelos medos. E o medo em excesso faz coisas muito estúpidas: impede a vida e fecha mentalidades. Ah, e se eles “lá” estão a morrer, isso, pelos vistos, não interessa nada. Realmente, a história é esquecida com muita rapidez.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Fase de regresso




Nilton Quoirin


Entre conversas e silêncios vou-me apercebendo que estou em fase de regresso. Há o regresso físico, numa viagem de lá para cá. Depois há as muitas outras pequenas viagens de regressos: de pormenores ridículos de me espantar com o valor de 2,8€ por dois croissants e um pastel de nata… quando em Paris só o pastel de nata seria 2€, passando pela sensação de precisar de tempo e oração para dar-me conta das mudanças. Parece que foi ontem, mas 5 anos fora é algum tempo, ainda mais quando muito aconteceu. O regresso também é tomada de consciência das mudanças, do solidificar ou confirmar caminhos, em registo de tanta gente que conheci, seja em conversas soltas, seja em amizades que ficarão pelo tempo. Estes dias passados foram de (re)encontros, de conhecer a nova casa, de começar a perceber os desafios da nova missão e de recordações, o que permitiu escutar e contar o “como foi” destes últimos tempos. Vivi também a alegria de co-celebrar na ordenação sacerdotal de três companheiros na Sé Nova de Coimbra. Hoje foi a Missa Nova de um deles, com foguetes e tapete de flores. Depois, coisas curiosas como andar na rua e “Desculpe, é o padre Paulo?” “Sim, sou!” “Ah, comecei a segui-lo pelo blogue, depois pelo facebook. Não sei se tem tempo, mas com algum descaramento pergunto: posso confessar-me?” “Vamos a isto! :) ” É isto, entre conversas e silêncios, vou-me apercebendo que estou em fase de regresso.

domingo, 5 de julho de 2015

1 ano de padre




Dulce Antunes


1 ano de padre. :D Sinto o agradecimento a Deus por este dom confiado. São imensos o poder e a força que vou-me apercebendo ter, em conjunto, quase ao mesmo nível, da fragilidade que muitas vezes sinto. Essa fragilidade, dentro da humanidade, tem-me ajudado a ajustar esses imensos poder e força para o melhor, para a dádiva, para a escuta, para o outro. Não é uma questão de ser mais ou menos digno, mas de me dispor à escuta da chamada e assim servir nesta paternidade que dá a vida de Deus. Foi um ano de muitas graças e da consciência do que significa amar na repetição dos gestos que consagram e perdoam em nome de Cristo. Agradeço também este 1.º ano de padre do Carlos, do Frederico, do Gonçalo, do João e do Pedro. Isto de ser padre não é coisa nossa, mas de Corpo e em serviço a esse Corpo: como religiosos, no nosso caso na Companhia de Jesus, como cristãos, na Igreja, e como humanos, na sociedade. Ao recordar este dia, voltam-me a doer as maçãs do rosto do constante sorrir de feliz. ;) Peço-vos, a quem seja de rezar, a oração, a que seja mais de pensar, um pensamento por nós, para continuarmos a ter um coração disponível à escuta e ao serviço do outro, dando vida às pessoas e nas missões que nos são confiadas.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Vontade de leitura




Gurcan Ozturk / AFP/ Getty Images

Ainda não tive oportunidade de ler a recente encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco. No entanto, a vontade cresce pelas críticas que tenho lido. Pelo lado das positivas, por ser uma encíclica que aborda pela primeira vez um tema tão importante como a ecologia, dos pontos de vista ambiental e humano. Do lado das negativas, curiosamente muitas vindas de âmbitos mais conservadores da Igreja, de que o Papa trata de temas que não competem à religião, acusando-o de socialista e até mesmo comunista. Pois, só por estas críticas negativas volto ao que fui pensando ao longo deste últimos anos de estudo: a heresia do neo-gnosticismo anda aí. O importante é sermos todos muitos espirituais, a rezar, a cumprir os preceitos todos e mais alguns, sobretudo ao nível da moral sexual, que isto da injustiça social, ecológica, é coisa de países de terceiro mundo. De facto, não me adianta rezar muito e ir a todas as missas e mais algumas se isso serve apenas para alivio de consciência ou “aplacar iras divinas”, mantendo a ideia, por não conhecerem a realidade para além dos seu mundo económico-social, de que há pessoas de categorias diferentes e de que todos vivem muito bem. Quem se diz cristão não pode esquecer que segue o Senhor que foi condenado à morte e de cruz também por ter expulso os vendilhões do Templo. De salientar que esse gesto foi religioso, político e económico, pela injustiça que se cometia em nome de Deus. Pelo que se lê desde o Antigo Testamento, reafirmado pelo Novo, das grandes preocupações divinas é sobretudo pelo que mais sofre, em especial quando tal acontece injustamente.