sábado, 31 de dezembro de 2016

Bom 2017



Com sentido de amor ao próximo, bom ano 2017. :)

Caminho




Inês Pinheiro


[Secção outros tons] Sigo na descoberta da beleza de caminho. E a vida faz-se. O que vier, em olhos de amante, será de agradecer.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Passagens de tempo




E. Joidos


Por aqui e por ali surgem os balanços de ano velho e desejos, previsões, etc., de ano novo. Ao nível comunitário, mais local ou universal, por questões de funcionalismo, é necessário marcas temporais… ano civil, ano académico, ano judicial, ano litúrgico. Depois, há as inúmeras passagens de tempo que não são tão coincidentes com as globais. Na nossa vida pessoal, são muitas as passagens que são marcos de tempo antigo para novo: um encontro, uma conversa, um retiro, uma missa, uma assinatura (de casa, trabalho, rescisão, casamento ou separação), uma doença, uma operação, a aprovação no último exame, a defesa da tese, o nascimento ou a morte, o resultado de umas análises, e por aí fora, de coisas tão subtis que têm mais significado do que se pensa. Há sempre o desejo de que o que vêm a seguir seja melhor, mas, parece-me que será sempre bom quando melhoro, cresço, evoluo, enquanto pessoa… não ficando nem preso ao passado, nem com angústias de futuro. Há muitas passagens de tempo individuais que, quando bem vividas, além de poderem ajudar a crescer, contribuem para o melhoramento do mundo. É que o mundo não são “eles”, essa realidade exterior a mim, mas também o que eu faço dele. E se cada um de nós evolui, cresce, vive a conversão de coração, então o que nos rodeia também.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Deixar crescer...




Jonathan Ernst/Reuters


[Secção desabafos] Se há coisa que faz mal é o paternalismo… seja social, religioso ou político. O poder mal usado infantiliza, criando formas de subjugar. Lidar com a liberdade do outro, que poderá suplantar-me no pensamento ou no modo de fazer as coisas, faz parte do crescimento humano e espiritual. Como padre não quero gente subjugada, mas livre. E não é nenhuma invenção minha. Limito-me a seguir as pegadas do maior Libertador da história. Apesar de estarmos em tempos de celebração do Seu nascimento, é de recordar que Cristo morreu na cruz por, entre outras coisas, expulsar do Templo aqueles que queriam fazer daquela casa uma prisão religiosa e espiritual. É que isto de “eu não vim para ser servido, mas para servir” tem que se lhe diga. Lá dizia o velho Simeão: “este Menino será sinal de contradição.” Curioso, esperavam (e pelos vistos ainda há quem espere) um Messias político, todo-poderoso, que vai comandar tudo e todos… e eis que surge quem desmonta todo o poder, levando à proximidade de, antes da entrega final, “já não vos chamo servos, mas amigos” e, depois da ressurreição, “vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus.’” Quanto mais sairmos do paternalismo, mais comunidade formamos, sem necessidade de afirmações de poder… mas a viver o serviço, no respeito do crescimento uns dos outros.

Elevem-se



[Secção outros tons] Olhei de relance e vi a silenciosa luz a segredar aos ramos: elevem-se. Sem medo, elevem-se.

Pose




Quem disse que eu não tinha pose?

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Blusão e memórias




[Secção memórias] Encontrei o meu blusão da Levi’s numa gaveta. Quantas vezes ouvi “vou deitar isso fora”, “tem algum jeito andares com isso tudo rasgado?”, mesmo que explicasse que gostava muito dele. Nem era por questão de moda. Gostava do blusão e quanto mais rasgado, mais gostava. Encontrei o meu blusão da Levi’s. Vesti-o e ri-me com as memórias que logo surgiram. O tempo passa e impressiona-me sempre a quantidade de pessoas que conheci e do que já vivi. Quando o vestia, nem sonhava as voltas que a vida daria. Voltas exteriores, entre céu e terra, e interiores, entre profundidade na busca de mim e de Deus. As memórias têm o seu quê de curioso, remetendo ao que se gosta, saboreando, e ao que não se gosta. Quando não se gosta, seja do rasgado ou desbotado da vida, a tentação é apagar, eliminar, anular, como se nunca tivesse acontecido. No entanto, a história não se pode apagar. O desafio, na linha de pensamento do teólogo Enzo Bianchi, é o de curar a memória, implicando visitar os acontecimentos e contá-los… num primeiro momento, sobretudo sobre o que não se gosta ou se envergonha, muito provavelmente a partir da reacção, depois, aos poucos, como facto que marcou e ficou, já não magoando. Às vezes passam-se anos, desde que se vestiu um casaco da Levi’s até ao reencontro. No entanto, seja qual for o tempo já passado, há sempre a possibilidade de começar a contar a história com nova perspectiva. Ainda estou a rir com as memórias, muitas delas curadas. 

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Amizade




[Sobre a amizade] A Inês enviou-me esta foto do nosso encontro de há dias. Fico a pensar nas maravilhas da amizade. Por mais palavras que se ponham, a amizade sente-se, gerando a confiança como se nos conhecêssemos desde tempos imemoriais. Tenho facilidade para a amizade, pela partilha que acontece nesse viver de coração o afecto de querermos bem ao outro, como se de um irmão ou irmã tratasse... mesmo quando se é filho único. ;) Conheci o Rafael graças às traduções das TED talks. Pessoalmente, foi em Paris, onde faz o seu doutoramento em genética. Com ele, conheci a Inês, também lá em investigação pós-doc na mesma área. Já foram tantas as conversas… ciência, fé, dança, amores e desamores, poesia, Deus, humor, sushi e outros acepipes, cinema, missas, laboratório, tudo a viver a beleza da amizade. Encontrámo-nos, há dias, num bonito passeio e almoço (com devidas gargalhadas) pelos jardins da Gulbenkian. E, sempre com a sensação de pouco, foi bom, muito bom. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Silêncio




Silêncio. Talvez das palavras mais repetidas no livro. Tantas vezes o sinto, o busco, o vivi e vivo, nas suas muitas facetas, desde o aconchego ao desespero. Silêncio aliado à fé causa ainda mais inquietação… sobretudo quando de todo o ser se tenta escutar a voz que encaminha na vontade de Deus, como certeza de fé e orientação, como incompreensível, como vendaval que desmonta qualquer alicerce anteriormente construído. Muitos dizem que é apenas “coisas de Homem”, isso da religião e da fé, para justificar a fraqueza humana desejosa de sentido no meio do absurdo. Por vezes, à maneira de Job e do próprio Moisés, em grito blasfemo, também sinto a fé agitada por muitas perguntas. Nunca conheci a tortura da fossa, nem a de estar num tronco em mar levando com vagas sem poder respirar, nem nenhuma outra, que me possa dignar a julgar qualquer decisão de “sim” ou “não” à fé. Na pequenez do meu tempo de vida, também como jesuíta e padre, e de escuta de histórias, minha e de outros, são muitas as vezes que me silencio, evitando respostas rápidas, em palavras de circunstância. O Amor, ou seja, Deus, tem caminhos insondáveis, diante dos quais o silêncio, Seu ou nosso, é a resposta. Depois de ler o livro de uma só vez, aguardo o filme… “Silêncio”.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Tempo




Depois de horas de viagem, confirmo, mais uma vez, que o tempo passa. O bom: a possibilidade sempre renovada de nascer em cada Natal.

Homilia Natal 2016 - Missa da Noite



Reuters


Na fotografia de ontem, partilhei o primeiro parágrafo da homilia. Depois de ter rezado na bonita Missa da Noite de Natal por todos os que por aqui me acompanham, partilho hoje o resto. Continuemos a celebrar a força deste Mistério da Encarnação de Deus.


Ao longo das semanas de Advento, nesse tempo de deixar crescer a esperança, fomos acompanhados pelos distintos modos de viver o Silêncio. Há o silêncio cortante, que nos impede de falar. No entanto, o especial silêncio de surpresa diante deste mistério que hoje contemplamos, permite-nos escutar, afastados de ruídos perturbadores, a profunda comunicação de Deus, já não do exterior, mas desde as entranhas da humanidade. Ano após ano, somos convidados a contemplar o condensado de histórias e vidas misteriosamente presentes no nascimento que mudou o curso da Humanidade: Deus torna-se frágil, Deus cresce, Deus observa com olhos de criança, Deus aperta as mãos de Maria e de José, com a delicadeza de quem descobre a ternura da maternidade e da paternidade. O Menino Deus vive a humanidade em pleno.

Será que acreditamos nisto?

A inquietação na busca de Deus, permite derrubar ídolos e encontrar o Príncipe da Paz, envolto em panos numa manjedoura. O presépio, se olharmos bem, é, à semelhança da cruz, escandaloso. O presépio baralha a forma como encaramos Deus. Não nasce num palácio no centro da localidade, mas num lugar afastado na periferia. Não nasce num trono, mas numa gruta, num estábulo. Não são os ilustres que o reconhecem, mas os pastores, esses que, apesar de considerados ignorantes e excluídos, sabem ler os sinais dos tempos, em vozes de anjo que lhes fazem brotar a alegria da força da Vida. À semelhança de Zacarias, de Maria e de José, os pastores são convidados a afastar-se do medo. 

Detenho-me nesta questão do medo. Na actualidade, o medo tem-nos paralisado. Com tanta informação ou desinformação, o medo parece que ganha terreno no mundo e no concreto das nossas vidas. As sombras e a escuridão de que o outro pode fazer mal, tem provocado fechamentos e fundamentalismos, impedindo o face-a-face em diálogo que afirma a igual dignidade em cada ser humano. Por isso, somos convidados a voltarmo-nos para a Luz, permitindo que possa brilhar em cada recanto das nossas entranhas… fazendo com o que o medonho desconhecido, se torne conhecido e, assim, possível de ser afastado. 

Mais uma vez pergunto: será que, apesar de todos os textos que nos são dados, acreditamos que Deus nasce para nos divinizar?

Tomáš Halík, no livro “Paciência com Deus”, escreve “há que repetir uma e outra vez: a fé não é uma questão de problemas, mas de mistério, por isso nunca devemos abandonar o caminho da busca e da interrogação.” 

Pensando na Palavra que assume Carne, vemos que a linguagem ou as palavras ganham corpo na sua interpretação. Assim, recorro à ajuda a outros idiomas.

“Connaître” significa, em francês, “Conhecer”. Acho piada ao facto de, traduzindo à letra, que o conhecimento seja entendido como um “co-nascimento”, um “nascer-com”. Vai daí que isto de sermos humanos, ou pelo menos irmos tentando sê-lo, implica um renascer aliado à sabedoria de vida. Somos estimulados à busca, à interrogação que não nos deixe ficar estagnados no já adquirido. A nova experiência de vida ou o novo conhecimento permitem um renascer da nossa visão em relação ao mundo, a nós próprios e a Deus. Essa visão poderá ser mais positiva ou mais negativa conforme o modo como lidamos com a experiência. Podemos ficar agarrados à dor, ao contentamento, à doença ou à alegria, sem fazer o caminho que leva à profundidade e ao passo maior de encontro comigo mesmo, com o meu próximo e com Deus. 

Tenho para mim que o tempo de Natal, por ser tempo de reencontro, é perfeito para se dar a oportunidade de re-nascer. Daí que o que mais caracteriza este tempo é a esperança. A esperança de que, como nos diz o profeta Isaías, “algo novo já está a acontecer” (Is 43,19), mostrando-nos liberdade diante do medo. 

Ainda assim, olhando para os tempos que correm, com os inúmeros conflitos, ou para a vida de cada pessoa com sérias dificuldades, é mais difícil perceber esse acontecimento novo. Não brinquemos… a vida não se reduz a contos-de-fadas com “finais felizes” a todo momento. No entanto, se formos capazes de interrogar, de fazer o caminho de fé neste Menino que nasceu, cresceu, morreu e ressuscitou, chegaremos a viver com Ele o grande momento de plena felicidade, nesse grande encontro ao qual somos chamados. 

“Ok, pe. Paulo, mas volta lá aos ‘momentos em que é difícil perceber a tal esperança’”. Pois, não se pode ficar na espiritualidade desencarnada, ou mesmo numa “fezada” afastada de dores, ainda mais, quando somos bombardeados de notícias cheias de desumanidade. Então, que caminho quero fazer? O do desespero ou o da esperança? Sozinho ou acompanhado?  De estagnação ou de conversão? Às vezes, com a liberdade que nos é dada como filhos de Deus, é preciso vomitar as dores das entranhas que impedem ver o futuro, abrindo o coração para que as feridas possam ser saradas e, assim, fazer o caminho da busca. Nós, cada um de nós que aqui estamos nesta assembleia, todas as pessoas que conhecemos, não somos “coisa pouca”.  Somos criados e amados por Deus… e livres para ir ao fundo da humanidade., sendo tal, algo de grandioso. Muitos poderemos entender esse ser amados de forma distinta, contudo, seja com maior, menor ou nenhuma crença em Deus, somos atravessados por fé, por esperança e por caridade e aí somos convidados em cada dia da vida a libertar o que oprime para dar mais um passo em direcção ao mistério da Vida. 

Neste presente, nesta noite, neste hoje, carregados de história, cada um de nós está a viver algo concreto: alguma crise (a qual há que respeitar ao máximo), uma alegria imensa, uma dor (seja qual for, que torna o Natal mais triste), ou a passar por uma fase que leva a que o Natal seja mais um dia no calendário, podendo estar aqui a cumprir a “desobriga”. No entanto, também há a possibilidade de estar viver o sentido do Natal com grande intensidade, com o brilho no olhar, no coração, com fortíssimo sentimento de esperança.

Seja qual for a situação, temos de SER. Como que olhar o espelho e agradecer por se ser como se é. Nisto, não haja vergonha ou receio de chorar, ou de rir à gargalhada, de comer o doce que há muito não se come, de abraçar a pessoa que mais gosta (e na sua ausência, pensar nela e abraçá-la nesse mesmo pensamento), de rezar, de agradecer muito e de prometer que vai viver intensamente o novo ano, mesmo com os receios, as dúvidas, a crise, deixando que a luz da Esperança, ténue ou forte, esteja sempre acesa. E assim, não tornar a vida como simples vida, mas como desejo de caminho, de força para uma mudança, ou de contribuição para tudo o que permita o “nascer de novo”. E não se espere por limites de vida, como doenças ou crises sociais ou políticas, para reconhecer a força do encontro. Podemos dar presentes, mas, mais que tudo, sejamos presente, no tempo e no espaço, para mim, para o outro e para Deus. Por exemplo, se ajudámos alguém nos dias que antecederam o Natal, talvez essa(s) mesma(s) pessoa(s) continue(m) a necessitar de ajuda... há que continuar a ajudar. Se algum de nós precisou de ajuda (material, afectiva, espiritual), talvez continuemos a necessitar dela depois do dia de Natal... não tenhamos nem medo, nem vergonha de continuar a pedi-la. 

Será que acreditamos mesmo no Natal? Espero que, tal como Maria que guardava tudo no seu coração, acreditemos que em cada Natal, em cada nascimento, somos chamados à Vida, ao encontro com o Menino Deus com a totalidade do que somos. Ele é Jesus, Deus connosco, dando-nos oportunidade de curar feridas, pessoais ou relacionais, permitindo a leitura renovada da história. Tudo na simplicidade do quotidiano, nas lutas pela justiça e verdade, na criatividade, no estudo, na possibilidade de avançar para mudanças, conversões, de vida, contribuindo para que os nossos corações sejam cada vez mais humanos e, assim, à semelhança do Menino Deus, mais divinos. Amén.


sábado, 24 de dezembro de 2016

Noite de Natal




A caminho da Missa a celebrar o Nascimento do Menino Deus, rezo o abecedário para entregar todos os nomes de Amizade. Santo, Feliz e Bom Natal. Que a Luz e a Paz do Menino que nasce, vos encha os corações.

O sol recolhe os pensamentos




[Em modo de preparação do Natal] O sol recolhe os pensamentos e cada pessoa no horizonte. Aproxima-se a noite. Os pastores nem sonham que serão os primeiros a contemplar a Luz. No silêncio, as dores de parto anunciam Natal. Todo o coração humano está prestes a poder receber o divino.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Beleza da Luz




[Em modo de preparação do Natal] Das coisas bonitas, intensas e sérias do Natal: a beleza da Luz da liberdade de tudo o que nos impede de ser felizes. O Menino nasce para nascermos de novo, resgatando-nos da escuridão para a Vida.

Agora Nós - RTP1





[Coisas na vida de um padre] Partilho a conversa de ontem com Tânia Ribas e José Pedro Vasconcelos, no programa Agora Nós. O Natal foi o mote. Vale muito a pena ouvir o coro, que abre o programa, antes da conversa. Agradeço a simpatia de ambos e de toda a produção do programa.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Em preparação do Natal




[Em preparação do Natal] Que se queime tudo o que nos enleie e impeça de ser livres… permitindo Natal em cada coração. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Natal... pode ser duro e triste


Katsuyoshi Nakahara
[Texto a pensar em quem o tempo de Natal possa ser duro e triste] Começa a semana de agitação. As compras que faltam, os preparativos de última hora antes das viagens, de modo a não esquecer nada, as mensagens e cartões e posts e telefonemas… “Santo, Bom ou Feliz Natal e próspero Ano Novo… que seja melhor que este, com muita saúde.” Vêm à memória as pessoas, a solidariedade, o sentir do “espírito natalício”. Mas, para muitas pessoas, começa a semana da agitação… pelo peso que pode ser este tempo. O silêncio da ausência de alguém, o jantar forçado com a família “porque sim e tem de ser”, o encontro com quem faz mal, psicológica, afectiva ou fisicamente. “Era bom que este tempo passasse depressa!”, voa nos pensamentos com suspiros e talvez muitas lágrimas. Então, ainda há tempo de pensar no que se pode fazer para que a noite seja diferente. Em oração, perceber que o Natal tem um sentido mais profundo: Deus, dispensando qualquer bolo-rei, bacalhau, fausto perú, noite ou conversa ou sorrisos forçados, nasce e aconchega-se nessas grutas arrefecidas pelas desavenças dos tempos. Depois, seja qual for o motivo, se se vai passar a noite de Natal só ou com família reduzida, pensar que não há que forçar nem conversas, nem silêncios, nem sorrisos, nem obrigar-me à circunstância de agradar seja quem for, vivendo Natal à maneira ajustada ao sentido mais profundo. Por vezes, em nome da descoberta de algo maior, há que quebrar tradições… afinal, o Salvador não caiu dos céus, como um deus guerreiro, como se esperava, mas nasceu frágil, numa gruta, rodeado de quem o amava profundamente.

domingo, 18 de dezembro de 2016

S. José



Este domingo, IV do Advento, é-nos apresentado S. José. No Evangelho de S. Lucas, dá-se a Anunciação a Maria. No de S. Mateus, a Anunciação a José. Em Lucas, Maria está bem desperta, já em Mateus, José cai num sono profundo, quando têm o encontro com o Anjo. Em comum: a ambos é-lhes dito para não temerem. O grande anúncio da vi[n]da de Deus encarnado é de confirmar a liberdade que está para além do medo, levando-nos ao essencial: a confiança, a fé, em Deus que está connosco para nos dar vida e fazer-nos participantes da sua divindade. Como? Podemos, p. ex., detectar os nossos medos, tanto superficiais como profundos. Depois, em oração ou boa conversa com alguém, libertá-los, permitindo nascimento em todos esses recantos. Não significa vida fácil, que o digam Maria e José, mas, saindo da absurda prisão do medo… que tanto mal está a fazer no nosso mundo e em tantos corações, significa vida com sentido de compreensão e respeito pelo próximo.


sábado, 17 de dezembro de 2016

Papa Francisco: 80 anos



Toni Gentile/Reuters

O Papa Francisco celebra 80 anos. O encontro com Deus, através da observação da realidade que o circunda, a recordar, conhecer e denunciar a injustiça, sobretudo com os mais pobres e vítimas de interesses bélicos, junto com a busca e a promoção do encontro, à semelhança de Cristo, marcam a sua vida. A simplicidade e autenticidade dos gestos têm condensado as palavras no essencial. Entre o lado prático e a sabedoria teológica, reveste-se da profundidade da relação com Cristo. Na difícil tarefa de líder da Igreja Católica, para compensar a falta de um pulmão, preenche-se do Espírito e do carinho de tantos de nós pelo mundo inteiro. Tal como pediu para que rezássemos: Senhor, que a vida de Francisco continue a ser “tranquila, religiosa, fecunda. Também alegre.”

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Ceia de Natal de Finalistas




[Coisas na vida de um padre-professor com finalistas do melhor] Tivemos ontem a Ceia e Sarau da Ceia de Natal de Finalistas das escolas ARTAVE, CCM, INA e OFICINA. Foi muita animação, solidariedade e cuidar do outro. Apesar de ainda faltarem alguns meses para terminar, já há muitas recordações.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Coração enooooorme




Deolinda Ferreira

[Coisas na vida de um padre] Começaram as celebrações de Advento. Hoje foi com os alunos da primária. Braços abertos a pedir a Jesus para termos um coração enoooooooooooorme. Foi uma animação.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Ecos dos agradecimentos




Rupak De Chowdhur


Os muitos bons ecos dos agradecimentos, pela carta de ontem, ressoam nas muitas vozes de crianças escutadas. Os seus olhares irradiam sonhos, nesse desejo de contagiar o mundo com vida. Depende de nós, adultos, ajudá-las a dar passos em caminho de liberdade.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Carta a Mães, Pais, Encarregados(as) de Educação



Odilon Dimier

Estimadas Mães, estimados Pais, Encarregados(as) de Educação em geral,

Nesta última semana de aulas, muitos irão receber os resultados das avaliações, que serão consolidadas em notas finais de período daqui a alguns dias. Nada de novo. O que pode ser algo novo é o modo como as recebem. Talvez muitos já o fazem, no entanto, aqui fica: antes de receberem algum resultado de teste ou de notas finais, dêem um bom abraço aos vossos filhos, filhas, educandos. Esse abraço dirá que gostam deles pelo que são, independentemente dos resultados. 

Se as notas forem muito boas, mais do que a inteligência, elogiem o processo, o caminho, o esforço. Se as notas não forem as desejadas, tentem perceber o que se passou, com calma. É o primeiro período, ainda há muito caminho pela frente. Nunca, mas nunca, lhes chamem algo que os inferiorize.

É certo que é de, tal como nós professores, puxar por eles, de modo a dar o seu melhor. E aqui estamos, em colaboração convosco, para ensinar-lhes conhecimentos científicos das mais diferentes áreas, dando-lhes ferramentas intelectuais para o seu futuro. No entanto, um aluno, antes de qualquer nota, é uma pessoa com muito a acontecer na sua vida. De criança a adolescente, a dimensão afectiva é muito forte. A base, o fundamento, o suporte, é sentirem-se amados simplesmente por serem quem são. Mais importante ainda, não descarreguem ou projectem sobre eles as frustrações que possam ter, de presente ou de passado. Ninguém é cópia de ninguém, muito menos uma criança ou um adolescente. Se se sentirem amados, podem ser desafiados ao seu ritmo que irão dar resposta, igualmente ao seu ritmo. 

Talvez possam receber uma ou outra indicação sobre o comportamento. Antes de manifestarem a vossa tristeza, ou repreensão, abracem-nos. Recordem que são crianças ou adolescentes e não adultos em miniatura. 

O primeiro apoio que eles sentem é em casa, nesse sentir de lar, onde podem voltar sempre que algo não corre pelo melhor. É isso, antes de receberem algum resultado de teste ou de notas finais, dêem um bom abraço aos vossos filhos, filhas, educandos. Esse abraço dirá que gostam deles pelo que são, independentemente dos resultados. 

Obrigado. É muito bom estarmos juntos nesta missão, ainda que de modos diferentes, de educar e ajudar as “nossas” crianças e adolescentes a serem mais humanas. 

Um Abraço!



À conversa...



Estive à conversa com o cantor Diogo Piçarra, depois de ter apresentado aqui na escola o seu projecto Diogo Piçarra em Pessoa. Junta-nos o Algarve e o gosto pela poesia. O projecto é muito interessante, estimulando os alunos à leitura, em especial de Pessoa, e à escrita. Depois, claro, a forma como musicou os poemas, tanto os de Pessoa, como os seus interpretando os do poeta, com a voz própria de quem canta com alma. Até breve, Diogo.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Domingo da Alegria




Gianni Bulacio

Este domingo “gaudete”, recorda-nos que somos chamados à alegria… profunda. Sto. Inácio de Loiola chamaria de consolação espiritual. Quem vive alegre, vive na proximidade com Deus. Convém não confundir esta alegria com um estado de ter de estar a todo o momento sorridente e feliz e contente. A alegria brota das entranhas, na certeza da presença do Deus da vida e não da necessidade de edificar os outros. Por vezes acontece isso na vida religiosa… parece que tem de se estar sempre contentinhos(as). Das vantagens de se distinguir o ser do estar, é precisamente o sentido da autenticidade com que se vive. Eu posso ser uma pessoa alegre com a vida, mas estar triste por, p. ex., acompanhar a tristeza de alguém ou ver o sofrimento que há no mundo. Nas entranhas, aumentam a fé, esperança e caridade…  que permitem sentir na pele o que me rodeia, sem obrigar a sentimentos falseados para edificar. Quem vive a alegria profunda, sabe bem o que é atravessar “vales tenebrosos”, levando a luz de Deus a todos os cantos que vai descobrindo. Ao fazê-lo, encontra a serenidade na certeza de que a Vida tem a última palavra.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Alegria




Foto do final de um casamento muito feliz, cheio de alegria


Vejo os textos litúrgicos de amanhã, para ir rezando e preparando a homilia. O III Domingo de Advento é dia de recordar de forma especial que este tempo tem como base a alegria, presente na espera da Luz que nasce para dissipar as trevas. Como o Papa Francisco tantas vezes recorda aos padres, há que ser dadores de vida e de alegria. :)

Em resposta a telefonema anónimo




sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Dar tempo ao Corpo





Laurent Liotard

É tempo de dar tempo ao Corpo. No Advento há gestação a acontecer, onde o ser se interliga nas muitas vidas: biológica, psicológica, sociológica e teológica. O Corpo de Deus desperta na humanidade, presente em cada um de nós, a força de Vida. O gesto, o movimento de corpo tem de ser mais que o executar… tem de ser o habitar o que sou na sua plena potencialidade. O Corpo, de forma mais ou menos subtil, fala das entranhas mais profundas da história. O grito, o desprezo, o gozo, a pancada, mas, também, a carícia, a ternura, o aconchego, que aconteceram ou acontecem ajudam a compreender o presente. Curar as memórias dolorosas e avivar as retemperadoras, é caminho de liberdade. E dando tempo ao Corpo habitado pelo Espírito, elevo a dignidade, minha e de quem me rodeia. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

"Onde estás?"




“Anunciação” por Ossawa Tanner

“Onde estás?” é a pergunta que me tem ressoado desde ontem, quando li os textos para preparar as homilias para hoje. À pergunta, Adão e Eva respondem de forma esquiva e serpentina, faltando à honestidade consigo mesmos e com Deus. No entanto, Deus continua a procurar-nos. Não desistindo de nós, busca-nos e pede-nos a verdade, independentemente do que possamos ter feito ou decidido na vida. A verdade passa por acreditarmos em nós, tal como Ele o faz. Quando acreditamos na nossa potencialidade, nos nossos dons, na nossa fé que, em plena autenticidade, nos salva, estamos a ajudá-Lo a viver o encontro e promover a salvação do mundo. Na Anunciação, Deus volta a buscar a Humanidade através de Maria. Com o seu sim, a divindade entra no ser humano, para o resgatar de todo o mal. Por um lado, a resposta de Maria é por toda a humanidade. Por outro, pelo respeito de Deus por cada um de nós, tem de ser cada pessoa a dar a resposta a essa busca. Continuamos em caminho… por vezes, esquivando-nos, outras vezes, acertando o passo, deixando-nos encontrar por Deus. Tenho para mim que muito mudaria se começássemos a crer mais em nós mesmos, na essência, não de poder, mas de serviço para que a Humanidade seja cada vez mais de vida… ou seja, divina.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Escrita solta




[Aula com proposta de escutar-se em escrita] Gosto muito de propor aquilo que chamo "aula da folha em branco". Há sempre o ar de surpresa quando digo para deixarem em cima da mesa apenas uma caneta. "Vamos fazer teste, stôr?", perguntam alguns com sensação de receio. Com as folhas em cima da mesa, dito as regras: 
- A folha é somente vossa. Podem fazer dela o que quiserem. Escrever o que quiserem, da forma como quiserem. A única coisa que é obrigatória é a verdade, a autenticidade, convosco. Se há falta de imaginação, aqui vão ajudas: pensem numa pessoa e escrevam o que sentem ou pensam dela; escrevam sobre algo difícil a contar; escrevam coisas soltas que se vos ocorre. Não prendam a imaginação. A folha é vossa!
- É para escrever o nome?
- Quer escrever?
- Lá está o stôr com os seus enigmas.
- Eu também vou escrever no quadro. Vocês serão a minha inspiração. Vamos a isto?
Música de fundo. Uns começaram logo. Outros, mantinham o ar de perdidos. Folhas na vertical, horizontal, diagonal, escritas em círculos, desenhos, rabiscos, iam-se soltando. Dei tempo para terminar.
- E então? 
Os braços surgiam a pedir palavra.
- Foi estranho ao início, mas depois deixei-me levar.
- Não estava à espera que me ajudasse tanto.
- Foi interessante, mas não é novo. Já penso muito por mim.
- É mesmo muito o que vai cá dentro, stôr.
- A nossa vida é muitas vezes presa por regras e filtros. São necessários, é certo, por vivermos em sociedade e tem de haver o respeito uns pelos outros. No entanto, todos nós precisamos dos nossos espaço e tempo para libertar precisamente o muito que levamos dentro. A escrita é um meio para libertar e, quem sabe, uma ajuda para boas conversas com alguém que possa orientar. No fundo, é dar-me tempo para escutar-me e perceber que, mesmo que se tente, até mesmo humilhar-me, com tudo o que vivo tenho força de existência e de dignidade. Como terminei a minha escrita no quadro, "ah, como gostaria que o Amor de Deus se expandisse e todos percebessem o quanto podemos criar e dar vida. Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. --> Isto é Natal! --> Dar corpo às palavras!"


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Vi(r)agem



Avelina Ferraz


[Coisas boas na vida de um padre] Há ano e meio, fui desafiado a escrever um texto para um livro integrado no projecto “(Re)Inserir na Trofa”, da Associação Asas. Esta Associação, em outros projectos, acompanha pessoas que desejam libertar-se do vício de álcool e drogas. 23 rostos e histórias, 23 escritores e textos, com Vi(r)agem como pano de fundo. Recebi a história da Rosário. Li, fiz silêncio. Reli, novamente silêncio… até perceber como daria corpo às palavras. Em retiro, numa das noites escrevi-o de seguida. Houve trocas de mails, apurando aqui e ali. Até que o “Quando alguém nos espera…” ficou definitivo. Hoje foi o lançamento do “Vi(r)agem”, com o encontro entre nós escritores e respectivos rostos sobre quem escrevemos. Foi emocionante. Nós tínhamos em mãos a intimidade de quem não conhecíamos… e eles sabiam disso. Sentia-se o misto de solenidade e timidez nas nossas trocas de olhares, em busca de quem seria quem. Chegou a minha vez. A Rosário e eu apresentámo-nos. A timidez foi-se dissipando com a conversa solta, entre os autógrafos e sorrisos. As palavras, além do corpo nas histórias escritas, ganharam corpo nos rostos que se conheceram. Pensar que a passagem do livro de Isaías na Missa de hoje termina desta forma: “Eis o vosso Deus. […] Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso.” A Rosário já trabalha e casou com o António, dando mais valor ao “é sempre bom quando nos espera alguém que nos ama.” Ficou combinado um café.



Lançamento de livro




[Coisas extra-quotidiano na vida de um padre] No lançamento do livro "Vi(r)agem", onde, graças à Mafalda Ribeiro, colaborei com um texto, inspirado na vida de uma utente da Associação Asas.