domingo, 3 de abril de 2016

Triste comparação




Ernie Vater


“Não esqueças de que há gente que sofre mais do que tu!” Disseram-me esta terrível frase em tempos que não me estavam a ser propriamente fáceis. Daquelas noites de grande escuridão de alma, em que o sentido das coisas se perde de forma brusca e dolorosa. Não estava em depressão, mas o sentir tocava à porta dessa mancha informe que a tantos rodeia e poucos compreendem. Partilhava o que vivia e lá me disseram “não esqueças de que há gente que sofre mais do que tu!” Não duvido que tenha sido dito com intenção de ajudar a relativizar, mas… mas foi terrível, por ter-me aumentado o sofrimento: além do que estava a passar, acrescia o “sofrer por estar a sofrer”. Se não se sabe o que dizer a alguém que está a passar por maus momentos, uma das grandes obras de misericórdia é o estar em silêncio de escuta atenta e não dizer de todo que há quem sofra mais. Sim, até pode haver, no entanto, o sofrimento, tal como a vida, não deve ser levianamente comparado. Na escuta, como acto de misericórdia, vive-se o respeito pelo sofrimento do outro, para além de todos os demais sofrimentos que possam acontecer no mundo, sendo também caminho para iluminar e aquecer os recantos de um coração sofrido.

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