domingo, 30 de abril de 2017

Depois da chegada, a partida





Os discípulos de Emaús caminharam com Jesus ao lado sem o reconhecerem. Repassaram a história, no contar dos acontecimentos marcantes. Em resumo, a vida. Na chegada, à noite, dá-se a luz nessa simplicidade de pão abençoado partido. Regressam a Jerusalém de coração ardente, tornando-se anunciadores. Hoje, alunos e educadores peregrinos, somos discípulos agradecidos por tanto bem recebido nestes dias, que levam vida por, com e em Deus, no regresso a Lisboa, Cernache e Caldinhas.

sábado, 29 de abril de 2017

Peregrinação






[Coisas na vida de um padre] Em peregrinação com alunos. O caminho é feito a caminhar, já dizia o poeta Antonio Machado. Enquanto se caminha, agradecem-se os passos, as pedras e todas as histórias. Quando peregrino, rezo por todas as pessoas que me pedem orações... o abecedário, portanto.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Liberdade




O tempo tem-me preenchido a escrita nos encontros e outros afazeres. No entanto, em dia em que a Liberdade impera nas palavras e memórias, deixo o desejo de que os nossos gestos sejam cada vez mais livres... de opressão e de imposição no sentir, no pensar, no crer, ganhando força de autenticidade. 

[Foto com poema de José Tolentino Mendonça]

domingo, 16 de abril de 2017

Domingo de Páscoa






[Secção outros tons - especial Domingo de Páscoa] As mulheres dão sinal da Luz. Seguem o insistente convite de largar as amarras do medo. É a Vida que renova todas as coisas, desvelando anúncio de fé, esperança e caridade. Deu-se a Passagem do Senhor. Aleluia. 

Santa Páscoa a quem passa por aqui em cada dia. Neste dia especial, em que Cristo ressuscitou, rezo o abecedário, recordando todos os nomes, pedindo-Lhe a Sua Paz, Vida e Luz por vocês.

sábado, 15 de abril de 2017

Sábado Santo






[Secção outros tons - especial Sábado Santo] Vagueio errante nos sentimentos. O pensar ainda está enevoado, tanto das tuas palavras e gestos de erguer cada rosto perdido, como do silêncio da hora em que ficaste perdido na escuridão da morte. A pedra rolada encerrou a pedra angular. Libertando o vazio da memória, recordo a água fresca nos pés, o teu toque, o teu olhar. E sigo.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Silêncio em noite de Sexta-feira Santa




Sanjay Ramani

[Secção desabafos em noite de Sexta-feira Santa] Esta é a noite do silêncio profundo que evoca todas as dúvidas, perguntas, angústias. Deus está morto, afirmou Nietzsche uma vez. Aquele em quem todas as palavras ganhavam cor, na autenticidade que fazia engrandecer a alma, foi estendido na cruz e sepultado em tempo de trevas. Sim, Deus morre na sua humanidade, tomando para si toda a morte, nessa injustiça que só quem ama tudo e todos pode assumir. Durante a celebração da Paixão e na procissão do enterro do Senhor, o meu coração enchia-se de silêncio carregado de gritos. Naquele tempo e nesta noite, vive-se o memorial que faz repetir todos os acontecimentos, juntando todos os gritos que dia após dia voltam a ecoar no mundo que busca sentido e Paz. Faz-se silêncio pelas trevas que envolvem gestos de morte que atacam tantos seres humanos indefesos, na sua fragilidade, condição de deficiência ou idade. Silêncio pelas trevas que buscam escravidão de mãos nas minas de minerais preciosos ou de corpos vendidos ao prazer de tantos que usam e abusam da mulher como objecto sexual. Silêncio pelas trevas dos que são assassinados pela sua fé ou que são postos em Campos de Concentração por serem de condição homossexual e aí serem torturados. Silêncio diante da normalização de bombas que caiem destruindo e matando, sem pudor e vergonha de se usar a palavra “mãe” numa delas. Silêncio diante das imagens de coletes laranjas em barcos pelo Mediterrâneo, de gente que foge da morte. Silêncio diante da falta de Educação, ao nível político e em claques de futebol que desejam a morte a outros, sem respeito pela memória dos que partiram em desastre de avião. A noite é densa por todas as dúvidas, perguntas e angústias. Nós que temos fé, acreditamos em Deus que morreu, de forma indigna, na sua humanidade para nos resgatar, a todos, à Vida. Que esta noite de silêncio nos ajude a, mais que compreender, viver o muito a que somos chamados no caminho da Paz. 

Sexta-feira da Semana Santa



[Secção outros tons - especial Sexta-feira da Semana Santa] Os ruídos adensam-se em gritos. Acumulam o tempo dos injustos, enquanto burlam histórias e latejam as costas em dores silvadas. Abandono. Chegou a hora em que os olhos semi-cerrados revelam a dignidade de quem não se cansa de amar. Eis o homem elevado até às profundezas do abismo humano. O véu rasgado tomba. Silencia-se a divindade... ouvindo-se o vento entre os ciprestes.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Quinta-feira da Semana Santa






[Secção outros tons - especial quinta-feira da Semana Santa] A toalha cinge os rins. Antes da partida, sela-se o serviço de Mestre em água fresca que limpa os pés de outros e em olhar de chão até ao rosto incomodado de discípulo. Cumpre-se a Palavra. Aproxima-se a hora. Anoitece. O Senhor ama os seus, todos, até ao fim.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

Educação




Rahul Talukder

[Secção pensamentos soltos] Surge mais um tema de longa discussão social: os 1000 estudantes que foram expulsos. As reacções mais díspares surgem, entre a reprovação, indignação, normalização, patriotismo, vergonha alheia, etc.. Mais uma vez, instala-se o comentário perdido pela comunicação social, sem que se avance para reflexões profundas sobre a Educação. Daqui a dias já se falará abundantemente sobre outro assunto qualquer, esfumando-se este.

Isto não é novo. Dando um pequeno exemplo, há cerca de 25 anos, quando abriram grandes empreendimentos na Praia da Rocha, centenas de adolescentes e jovens adultos iam lá passar a passagem de ano a preços baixíssimos. Depois, começaram também as viagens de finalistas. Ainda me recordo de estar no 12.º ano, há precisamente 20 anos, e rir com um cartaz, afixado lá na escola, com publicidade para viagens de finalistas na Praia da Rocha… para quem não sabe, sou de Portimão. Já nessa altura se ouvia comentários sobre a selvajaria da ‘geração rasca’ que abria extintores, atirava colchões ou os próprios para a piscina de altos andares, arrancava candeeiros, espalhava bebidas pelos apartamentos, partia vidros e espelhos. Afinal, o modo como alguns celebram na actualidade o finalizar do 12.º não é tão original quanto isso. A originalidade reserva-se às redes sociais onde publicam vídeos e fotos vangloriando-se de “grandes feitos”, provocando com que se ponha tudo o que é estudante na mesma categoria de vândalos e afins.

Todos temos algo de responsabilidade na evolução social. Todos participamos da sociedade… seja a formar-se no melhor que se pode, com as capacidades que se tem, divertindo-se e festejando de forma animada e descontraída, sem necessidade de excessos alcoólicos e de nenhuma violência, seja, por exemplo, a consumir programas sensacionalistas que convidam ao “não faço nada para além de dizer uns palavrões, agredir alguém, e sou famoso”. Depois, já há muito que é comprovado, o efeito grupo tem muito que se lhe diga. A boa educação, mesmo em situações adversas, acaba por ser uma opção. E, podendo ser importante, o dinheiro não é nem fundamental, nem “a” questão para se ser bem-educado.

Os factores medo, cansaço, falta de tempo, comparação e orgulho impedem o reconhecimento de que algo pode ir mal na educação que começa em casa. As regras do respeito e do reconhecimento de que há uma realidade que vai para além do umbigo pessoal são fundamentais. Dar todas as coisinhas para “comprar” os filhos, pelo tempo que não se tem ou das frustrações que não são vividas, integradas ou ultrapassadas, dão resultados terríveis. Os pais que se amam a si mesmos e amam os filhos sabem e vivem os tempos próprios de criança e adolescente, sem ânsias de que sejam adultos à força e mostrando, dentro da liberdade, as balizas que os ajudam a crescer humanamente. Esse crescimento inclui as festas, em celebração, e as viagens que animam sem necessidade de destruir.

Talvez não seja notícia, mas, felizmente, também aumenta o número de estudantes que fazem voluntariado interessando-se pela humanização do outro. Seja como for, deixe-se de brincar com a Educação.



Quarta-feira da Semana Santa






[Secção outros tons - especial quarta-feira da Semana Santa] O rosto endurece com a injustiça que não se cansa de se actualizar. Refinada em moedas de prata que compram as horas escurecidas pela miséria da corrupção e da hipocrisia. "Serei eu?" A resposta atravessa todos os corações que expiam pecados no alvo do dedo apontado ou na pedra por jogar.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Terça-feira da Semana Santa





[Secção outros tons - especial Terça-feira Santa] Das entranhas sai compaixão, em identidade formada desde o início dos tempos. A confiança alicerça-se em quem é com o Pai, na Sua forma justa de amar. Olhando à volta, o silêncio do pão molhado prepara as moedas da denúncia e a negação de quem se sente perdido. O véu estremece com a escuta da partida.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Segunda-feira da Semana Santa





[Secção outros tons - especial segunda-feira da Semana Santa] Silenciei o momento em que o perfume de bálsamo se espalha pelo mundo, sentindo o toque das mãos que reconhecem a hora. As moedas perdem o interesse da paga. Outras virão que condenarão. No entanto, a luz esperada libertará o amor pleno.


Na foto: palavras de Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 9 de abril de 2017

Domingo de Ramos






[Seccão outros tons - especial Domingo de Ramos] Começa a chegada da hora. Os lugares de físicos passam a ser de palavras e de gestos. "Eu sou", em eco de presença de crua humanidade. "Nós somos", torna-se esperança... de momento silenciada. 

Na foto: palavras de Daniel Faria.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Moralismos que não se quer





Sidhartha Bardoloye

[Secção desabafos] Para se compreender algumas separações, distingo moral de moralismo. A moral é antropológica, nessa consciência de que os actos podem ser bons ou maus. O moralismo é a cegueira farisaica que, em nome das aparências, mantém a opressão. Os exemplos nos Evangelhos são muitos. Infelizmente, em pleno século XXI ainda há outros tantos exemplos de moralismo. As situações de violência doméstica são de grande complexidade, sobretudo pelo modo como as vítimas as vivem. Não há dúvida de que a separação entre a vítima e o agressor é o grande passo. Nada legítima qualquer tipo de agressão a alguém. E é de grande tristeza que se possa dizer a uma vítima coisas como “o amor aguenta tudo”, “Jesus também sofreu muitas injustiças”, “se casaste foi tudo incluído no pacote”, “isso é tudo fantochada para chamares a atenção”, e outros “mimos” que tais. Tristeza é pouco, é nojento. Mais o é quando quem o diz é alguém que se diz de Igreja. Aí, está mesmo em pecado. Ficamos chocados com as situações mais dramáticas que são noticiadas. Mas há muitas que se ficam pela calada… em que, em nome do moralismo ou paz podre familiar, os agressores directos são apoiados por indirectos. A partir do momento que se entra na violência, nunca incluída em nenhum sacramento, deixou de haver amor.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Subtilezas de Primavera






[Secção outros tons] Quando uma tulipa desperta a beleza de amor-perfeito, em cores de Primavera, vestem-se campos de novos tempos.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Recordações...






Chegam recordações de momentos bonitos e felizes... com o padre a pedir "beijinho" aos esposos novos.


terça-feira, 4 de abril de 2017

Educação



Em final de período, onde infelizmente há referências a agressões a professores, é de relembrar a importância da Educação. 

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Coisas... e fotos.






[Coisas na vida de um padre] "Stôr, tire uma foto comigo." E é isto... ;)

Amor em liberdade




Amir Cengic

Não podemos mudar o passado. No entanto, a riqueza do estudo e do conhecimento da história permite-nos perceber o que é possível agradecer ou mudar no presente. Falo de história pessoal e, chamemos-lhe, comunitária. Cada um de nós recebe influências de tanta realidade. Isso significa que temos de estar presos para sempre? Não. Tenho pensado nisto com ajuda das fortes e bonitas passagens do Evangelho de S. João dos últimos domingos. Nos três, a partir da água [samaritana], da luz [cura do cego] e da vida [ressurreição de Lázaro], é intenso perceber o quanto somos chamados por Deus à Liberdade do que nos oprime e impede de sermos nós mesmos fonte de água, luz e vida. Pensando em Lázaro: Que pedras nos encerram em túmulos de medos? Que escuridões provocam reacções de defesa ante algo ou alguém que nos toca em feridas com nomes concretos? Que ligaduras de histórias mal-contadas ou de culpabilizações nos impedem os movimentos? É fascinante como Jesus, emocionado, mostra o seu amor pela humanidade, tocando nos pontos centrais que impedem o nosso crescimento pessoal e comunitário. “Lázaro [ou cada um dos nossos nomes], sai cá para fora!” Sente-se que Deus tem grande desejo no amor em liberdade de cada ser humano.

sábado, 1 de abril de 2017

Pregações




A pregar aos casais das Equipas de Nossa Senhora: "Ser casal: ossos dos mesmos ossos, carne da mesma carne... vida da mesma Vida".

Asas...




Há pouco comentei que os meus voos são outros. Ainda assim, as asas ficaram... e estendem-se ao infinito, ajudando outros a voar.