sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Dignidade recíproca




Theerasak Saksritawee

[Secção desabafos] Estão muitas mulheres a revelar o assédio a que foram sujeitas. Mais ou menos subtil ou totalmente descarado, foram vistas como objectos de prazer em mundos que (ainda) não compreenderam o respeito pela dignidade recíproca. O meu parêntesis no “ainda” deve-se aos comentários tipo: “na altura deu jeito para a fama, agora é que falam”, “quando precisaram não disseram nada” e outros “mimos” que tais. Houve muitas que não falaram e suicidaram-se. Outras tantas, que foram rejeitadas pelos próprios que delas abusaram e, depois, pelas famílias, aguentando como “mulheres-coragem” a vida e filhos bastardos. Ainda as há que, sim, evoluíram na carreira e, estando já mais seguras, resolveram dizer basta em nome das que continuam a ser sujeitas à objectifiação do ser mulher. Na altura era “normal”. Afinal, quantos séculos foram necessários para que uma mulher pudesse ser considerada cidadã com direito de voto? E correr numa maratona sem ser escorraçada a empurrões e pontapés? E ser, por exemplo, motorista da Carris sem ouvir piadas de colegas e de passageiros? (Este último exemplo contou-me há simplesmente 15 anos uma motorista.) Volto ao mesmo: os crimes de violência de género são públicos. Há responsabilidade social sobre tudo isto. Não são elas que “se põem a jeito”, é cada um de nós que tem de se ajeitar à educação pela dignidade recíproca.


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